sexta-feira, 28 de setembro de 2007

O Futuro do Pretérito

Contexto: entrevista de emprego, bem no fim de uma semana preenchida por fatos aleatórios sem (com) sentido, como talvez seja a vida inteira. O tema da redação era o uso da censura nos tempos modernos e, após eu conseguir buscar no fundo do meu cérebro que censorship quer dizer censura, comecei a escrever qualquer coisa.

Mas, como um fenômeno que às vezes acontece, o texto foi tomando vida própria. As palavras na língua estrangeira foram se juntando não muito confortavelmente e foram fazendo sentido pra mim mesma, muito além do que eu pretendia para uma tola composição de 180 palavras.O passado, o futuro e o confuso presente, sempre mencionados, e sempre incômodos, apesar de serem a coisa mais clichê já inventada, seriam o cenário em que se desenvolvem todas as tramas. Até porque o tempo assim em unidades de medida soa melhor sem essa parte das “unidades de medida”. O presente foi futuro no passado....

Assim como em um portátil aparelhinho que toca músicas, seria interessante ligar o “shuffle” e esperar pra ver qual “música” viria nesse futuro, que um dia será presente. A inércia de não querer mexer muito nos fatos embaralhados e jogados um a um no enredo é inquietante, juntando-se com o fato de todas as respostas carecerem de perguntas correspondentes. Talvez porque o “shuffle” tenha sido ligado antes de o tempo ser tempo e se dividir em passado, presente e futuro ou qualquer outro nome que poderíamos inventar. E muito antes de qualquer especulação racional inútil formulada por um andróidezinho paranóico como eu.


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Top Ipod: Leve - Chico Buarque

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Talvez

Comecei dizendo que toda fraude é frágil
Se soubesse as notas até viraria isso em canção
Mas supus que nem se meu dedilhar fosse ágil
Teria sentido o cantar do ainda mudo violão
Concluí que lirismo com rima é pra gente hábil
Repensei a idéia, por ser em si advérbio em desconstrução
Apaguei, recoloquei, observei meu pêndulo retrátil.
Ao imaginar o tempo preenchido por cores de opção
O sorriso desfingiu-se e renasceu a paixão portátil
E todo o meu talvez
es
fa
re
lou-
se

no

chão.

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Top Ipod: Erase Replace - Foo Fighters (do novo incrível novo álbum Echoes, Silence, Patience and Grace)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Restos

Eu preciso me livrar desses restos. Enfiá-los num enorme saco plástico escuro. Esses restos precisam se livrar de mim. E talvez eles me coloquem dentro desse saco plástico malcheiroso. Eu preciso sentir. Eu preciso chorar. Ou talvez sentir seja para os fracos. O pranto não sabe mais se materializar em líquido. Restos se acumulam e se empilham e se sufocam e se espalham. Entram nos meus pesadelos recorrentes. Restos de um passado que ainda é. Restos de um futuro que nunca será. Restos de um presente que não sabe acontecer. Restos que não merecem ser restos. Restos que não merecem voltar para onde vieram. Restos que não podem mais ficar aqui. E restos que eu não quero expulsar. Restos que ficam olhando fixamente para mim. Restos que me fazem desviar o olhar para algo que eu não consigo identificar ao certo. Restos mortais do que não foi. Restos que se mexem como zumbis. Restos de mim. Restos de almas que não acharam o caminho para habitar corpos. Corpos que nunca se pertenceram. Um corpo que fabrica palavras demais. Palavras que talvez não nasceram pra fazer sentido.
Os restos são minha única companhia na Terra da Solidão. Mas eu prefiro ficar sozinha.
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Top Ipod: Copo Vazio - Chico Buarque
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