segunda-feira, 3 de março de 2008

Mais-uns

Mas olha que o roteirista da minha vida resolveu imitar os de Hollywood e terminar a greve, assim como havia começado antes. Daí ele resolveu dar um toque Pulp Fiction à minha vida. Tá lá a Balbina, toda chistosa e faceira trabalhando em sua mesa (sim, agora eu tenho uma mesa) e então me entra alguém e diz quase “everybody on the floor this is a robbery”, exceto pela parte da aura de violência-cool de Tarantino.

Violência barata e armada, sem agressão física, mas com agressões traumáticas que não dá pra encarar como normal. Talvez porque eu seja de Goiás. Talvez porque eu seja apenas uma tola, independente de qualquer coisa. Bem vinda a São Paulo... Cada vez mais intensamente.

Levaram minha mochila nova, com tudo o que tinha dentro dela. Incluindo minha mecha de cabelo que eu ia vender, meu Ipod velho que tinha muito mais valor emocional do que muito ser humano por aí, meu terceiro celular a ir pro limbo, entre outras “coisas materiais”. Tá bom... Eu não sofri nenhuma coisa mais séria, mas por isso eu preciso achar bom? Ainda não sou um ser evoluído assim pra ter tanta nobreza de espírito. Volte daqui a uns três anos e falamos sobre isso de novo.

Mas o que consegue ser ainda pior do que a revolta com os feladaputas que estão agora desfilando com minha carteira zebrinha de pelúcia é a sensação intensificada de se estar na Grande São Paulo. Eu sou apenas mais uma. Misturada a essa multidão de milhões de “mais-uns”. As pessoas não se olham, não querem saber daqueles que compartilham o mesmo metro quadrado por uns instantes em lugares públicos. Eu me sinto confortável ignorando as pessoas. Na verdade sempre me senti. Só não tinha TANTA gente pra ignorar antes. E alguns mais íntimos vivem me dizendo pra eu me misturar mais com os outros seres humanos. Eu até melhorei um pouco nisso, apesar de ainda achar melhor ficar neutra. Mas então, quando estou anestesiada achando “normal” me homogeneizar à grande massa de “mais-uns” vêm alguém e invade meu espaço sem pedir licença. E me ofende, leva algo que eu considero como de valor. E eu não estou só me referindo ao assalto à mão armada que eu sofri semana passada. Mesmo.
Eu tenho o direito de não me conformar com isso, né? Deveria me misturar e continuar neutra evitando as pessoas ou começar a invadir o espaço delas também?


(Continua)



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Top Ipod - [mudo por motivo de força maior- a força da arma de fogo maior do que a força do meu olhar perplexo e idiota]
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