segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Homesick




Às vezes a gente cresce demais e não cabe em casa, dentro das roupas ou dentro do corpo. Talvez porque tenha juntado objetos desnecessários demais. Ou comido demais. Ou pensado demais. Ou ficado tanto tempo parado que tudo atrofiou. Sem saber se é cãibra, dor ou desespero, você pensa que precisa fazer alguma coisa. Não adianta pensar nos motivos ou se arrepender do que aconteceu. Faz tempo demais. Você não se lembra de como era sua letra cursiva, dos nomes das ruas ou dos apelidos de quem chegou a ser seu melhor amigo no mundo inteiro. Você só sabe que está lá, enorme, desajeitado e quase não consegue mais se mexer. No meio de mais uma noite insone, várias vozes egoístas gritam que você faz sempre tudo errado. E já que não dá para criar nada de bom ali, você decide continuar crescendo, mas para isso precisa fugir. Dentro de uma caixa mofada, guarda tudo aquilo que sabe que não vai mais precisar e deixa para trás. Bilhetes agora incompreensíveis, roupas que você nunca usou e mídias obsoletas gravadas e regravadas. Você amputa alguns membros do seu corpo que gangrenaram há anos sem que você tenha dado falta. E então você sai o mais rápido que pode. Quer voar, mas ainda não aprendeu a correr. Enquanto foge, você se ilude várias vezes pensando que agora, sim, entendeu tudo. Mas a realidade e as pessoas que moram nela parecem absurdas demais e você decide deixá-las falando sozinhas. Tudo ainda parece desproporcional. No meio do caminho, você não pertence mais a lugar algum. Só queria estar muito longe, em vários lugares ao mesmo tempo. Mas perto de si. Dentro de casa. Uma casa limpa, sem objetos inúteis, sem pessoas ou lembranças inúteis. Com livros cheios de lições importantes para aprender e onde os únicos papéis que valem ser guardados são os que cabem histórias novas. Histórias que precisam ser contadas.



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