segunda-feira, 21 de julho de 2008

Cadeia Alimentar

Acabamos de chegar. Era um grupo relativamente grande, algo como 30 ou 40 pessoas. Caminhamos em direção à clareira que era perto da estrada de onde viemos. O caminho para o museu era plano e sem nenhuma árvore ou arbusto, apenas alguma planta rasteira entremeando as poças rasas de água de alguns metros cada uma. Os estranhos espelhos d’água têm uma cor amarelo-azulada, talvez por causa da nuvem que está passando em frente ao sol da tarde. O museu é uma construção quadrada e bege, de um andar e com vidros bem grandes e claros na frente, sendo a única construção no meio do descampado. Andamos por uns 20 metros e entramos no museu. Somos recebidos por um segurança de terno escuro. Não há portas, e sim uma entrada larga e reta, sem nenhum detalhe e os vidros não se abrem. O grupo se espalha pelo hall retangular na frente do local. Eu vou para o vidro sozinha pra ver o exterior. Há apenas uma árvore no canto esquerdo que eu acho que não tinha reparado antes. No meio dos galhos, percebo um felino enorme, algo como uma onça, mas todo preto, exceto pelas patas dianteiras com pequenas manchas circulares brancas. O felino está olhando na direção da estrada. Sigo seu olhar e percebo que há um homem vindo, se aproximando da árvore. O felino prepara-se, aguardando silenciosamente a chegada do homem. Ele se veste como nós e também tem uma mochila nas costas. Não percebe o felino. Eu continuo olhando atrás do vidro. O homem passa do lado da árvore retorcida. O felino ataca com precisão e frieza e abocanha diretamente seu rosto. Eu levo um susto mas não consigo me mover e fico esperando ansiosamente que o homem lute contra o felino por sua vida, mas ele apenas move levemente o braço direito e tenta de forma débil afastar o animal, que continua movendo suas mandíbulas e se alimentando do homem vivo. Eu começo a entrar em pânico. O homem continua de pé enquanto o felino dilacera sua carne. Eu vejo tudo. As pessoas que vieram comigo continuam conversando e andando pelo local, enquanto o segurança traz a pessoa que servirá de guia para conhecer as exposições. Eu já não consigo mais olhar. Tento chorar mas não consigo. O homem está inerte e resignado com sua condição de degrau abaixo da cadeia alimentar. Eu assisto a tudo do lado de trás do vidro, gritando por dentro, quase conseguindo chorar. E então, o despertador toca. É manhã de segunda-feira em São Paulo.


"If I'm gonna talk, I just wanna talk, please don't interrupt!"


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Top Ipod: Last Flowers to The Hospital - Radiohead




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