quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Steve Jobs continuará me cobrando a busca pelos meus sonhos



“Your time is limited, so don’t waste it living someone else’s life. Don’t be trapped by dogma — which is living with the results of other people’s thinking. Don’t let the noise of others’ opinions drown out your own inner voice. And most important, have the courage to follow your heart and intuition. They somehow already know what you truly want to become. Everything else is secondary.”

Me lembro de um sonho que tive com Steve Jobs e ele simplesmente me perguntava o que eu mais queria fazer na vida. Após a minha resposta ele simplesmente me perguntou: "E por que você não faz?"

É engraçado isso. Quando alguma pessoa que me inspira morre, eu tenho mais vontade de continuar e quase consigo entender o que é esperança.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Há uma nova vida dentro da minha casa


Eu sempre adorei os cães. Gosto do olhar deles, dos súbitos ataques de alegria, da enorme empolgação que eles demonstram quando colocamos comida pra eles, do excesso de carência e até daquelas mordidinhas desesperadas dos filhotes nos dedos humanos (que acabei de aprender que devem ser evitadas para que os cães não fiquem agressivos).
Como dizia George Carlin, “a vida é uma sucessão de cachorros”, e eu realmente posso dividir a minha vida em ‘eras’ de acordo com o cachorro que eu tinha na época. Lembro do nome e de características estranhas de todos os meus cachorros, que não tinham raça definida, mas sempre estavam lá com as duas patinhas sobre o degrau da cozinha da casa da minha mãe, esperando alguma coisa (comida).
Semana passada, quando o meu tão sonhado filhotinho de pug chegou aqui em casa eu comecei a entender melhor o que me encanta tanto nos cães. No início eu demorei a acreditar que ele realmente existia, depois das incontáveis horas que eu passava procurando fotos de pug na internet e cobiçando os pugs alheios passeando com seus donos nos fins de tarde. Depois eu comecei a prestar mais atenção no comportamento dele, nos hábitos sendo adquiridos, em pequenos detalhes, como o barulhinho que ele faz quando respira ou a posição que ele sempre escolhe para dormir.
Eu olho pra ele e parece tudo tão simples. Ele é tão lindo e amado e sua rotina se resume a coisas necessárias e básicas: comer, beber água, usar seu tapete higiênico como banheiro, brincar, chorar um pouquinho por carinho, se movimentar até cansar e depois entrar em sua casinha aconchegante para dormir. A vida dele é tão repetitiva e simples e quando eu o observo eu só consigo enxergar felicidade, desde o olho enorme e brilhante até o rabinho enroladinho que está sempre se mexendo. Ao lado dele eu tenho vergonha da minha insatisfação com a vida, da minha preguiça, da minha insegurança, das minhas crises de não querer sair da cama, dos meus ataques de odiar a tudo e a todos. Ele nunca terá uma infância complicada, uma adolescência sofrida, rompimentos amorosos, falta de sucesso profissional ou medo de ser rejeitado. Ele sempre será querido e terá essa rotina simples e quanto carinho quiser receber. Quando ele começa a pegar no sono deitado no meu colo tudo parece tão fácil e tranqüilo que eu quase tenho inveja. Na verdade, eu percebi que ele está me trazendo paz. Eu também durmo, acordo, faço minhas refeições e vou ao banheiro algumas vezes ao dia, “brinco”, recebo carinho, me canso e durmo de novo. E isso é tão simples. Eu preciso aprender com o meu cachorrinho que viver é simples e básico e que é possível ter esse brilho nos olhos e abanar o meu rabinho.
Há uma nova vida dentro da minha casa e, eu imagino que também haja uma nova vida dentro da minha vida.  


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 Para quem quiser ver mais fotos do Humbert Humbert, visitem:
                http://humberthumbertthepug.tumblr.com

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Top Ipod: Raise The Knowledge – Gogol Bordello



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terça-feira, 21 de junho de 2011

A Segunda Chance de Narciso

Meu primeiro conto que, pelo convite do professor Wladyr Nader, foi postado no Escritablog. Vou ficar pensando por muitos dias na belíssima ilustração que fizeram . Espero que tenham paciência para ler:


                                         A Segunda Chance de Narciso






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Top Ipod:  Les Feuilles Mortes - Serge Gainsbourg



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terça-feira, 14 de junho de 2011

Autumn - Winter Blues



Dez para as seis de uma terça-feira de início de junho. Meu sistema respiratório pede clemência para o frio, mas ele não se importa e continua corroendo minhas narinas. Tudo no inverno é mais difícil e tento me consolar pensando que seria muito pior se eu morasse em Toronto. O peso dos agasalhos esconde minha ausência de vontade de estar lá fora, mas minha cama já não me quer: “só amanhã”, ela me diz. E eu a beijo na testa e afago o cobertor macio, que é mais bonito que qualquer coleção outono-inverno da semana de moda. No frio, até a imundície das calçadas é triste. Lembro-me de que o inverno ainda nem começou e decido que odeio também o outono. No elevador o vizinho me fala “e esse frio, hein?” e eu decido que odeio também o vizinho por ele ser tão óbvio. Pela manhã, até o farol verde que me dá passagem me irrita. Penso que ao menos o cheiro ruim de tudo fede menos no inverno, mas o ar é ácido e eu ainda não sei o que fazer para controlar a coriza que anula o meu olfato. Amaldiçoo o ônibus por ele não vir e agradeço ao relógio por ainda não estar atrasada. A moça bonita no ponto de ônibus está com as bochechas vermelhas por causa do vento gelado. Até a beleza é abominável no frio. O mendigo dorme na calçada ao lado de uma caixa onde antes houvera uma TV caríssima. O cobertor do mendigo é cinza e na caixa está escrito “infinita”. Todas as mães do mundo falam ao meu ouvido “está vendo como tem gente que sofre mais nessa vida que você?” e eu concordo, mas ignoro. No frio, ver a tristeza deitada ao lado da mentira faz mais sentido. Como uma TV pode ser infinita? O mendigo fica triste por ter apenas a caixa da TV infinita? Tenho inveja do mendigo porque ele não precisa ir trabalhar. Não sei se o inverno deixa o mendigo mais triste do que ele já é ou se eu estou refletindo a minha tristeza nele. Eu não quero chá, não quero sopa, não quero uma TV infinita. A tristeza repetitiva do frio é azul.


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Top Ipod: Siberie - Manu Chao




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terça-feira, 7 de junho de 2011

Fundindo chavões




Os pulmões inspiram e expiram senso comum
Os dedos regurgitam chavões
A boca já entediada estanca a hemorragia do óbvio
O eco do que sempre foi e eu nem sabia
Reverbera a vulgaridade das palavras já mornas,
A banalidade do que não se quer saber
E a bondade do que é acessível.


A vaga tentativa desigual esbarra no normal e se desespera

A frase feita é de todos e foi redundantemente feita por ninguém


O feijão com arroz quer ter um bife gourmet com fritas a seu lado
O trivial quer ser   t  r  i  v  i  a  l   e depois  l  a  i  v  i  r  t
O clichê terá que ser assassinado
E o chavão exposto a ambíguos mil graus
será derretido e transformado em maldade.



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Top Ipod: Silly Love Songs - Paul McCartney (an obvious song)



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domingo, 5 de junho de 2011

Caça, Pesca e Colheita

Eu sou uma preguiçosa convicta. Calculo mentalmente a quantidade de esforço necessário para fazer algo e sempre consigo formas engenhosas de usar poucos movimentos ou ações para que aquilo aconteça. Comer verduras e frutas, para mim, é algo que demanda um esforço muito maior do que a minha filosofia de vida preguiçosa aceita. E não me entenda mal, eu adoro verduras e frutas, de verdade, mesmo eu não tendo uma aparência saudável e em forma. 

Quando se mora na casa dos pais, a comida milagrosamente aparece na geladeira ou nas panelas. Então, um dia saímos de casa e percebemos que é preciso comprar comida e descobrimos que as geladeiras e as panelas não são instrumentos mágicos, mas que, na verdade, os pais vão ao supermercado e à feira comprar comida. 

Eu me acostumei a ir ao supermercado. No início foi complicado acertar as quantidades de comida só para mim, mas hoje em dia consigo lidar bem com isso. Mesmo minha geladeira não estando no ranking das melhores geladeiras para uma garrafa de água viver (acho que isso só soou engraçado na minha cabeça, desculpa), existe comida quando eu preciso e acho que consigo me nutrir razoavelmente ingerindo os alimentos que estão lá. 

O grande problema são as frutas e verduras. No supermercado eu compro aqueles vegetais murchos e feios e não tenho muita escolha. Quando minha mãe vem me visitar, noto que aparecem belíssimos exemplares de maçãs, laranjas, uvas, brócolis e mandioquinha na minha cozinha. Por curiosidade, perguntei pra ela onde ela conseguia esses vegetais tão incríveis. Então, ela me deu a resposta que eu temia: na feira.

Para vocês entenderem melhor, preciso explicar as diferenças entre as feiras de São Paulo e as feiras em Goiás. As feiras em Goiás são lugares em que vários feirantes expõem seus legumes e frutas separados em bancas. Os consumidores perguntam o preço, pagam, pegam o troco e recebem a mercadoria em sacolas e levam para suas casas. Em São Paulo acontece tudo isso, só que com UMA GRITARIA HISTÉRICA DESESPERADORA.

Lembro-me de quando eu era pequena e via as cenas desta novela e achava que aquilo era tudo coisa de televisão:


Quando me mudei pra São Paulo vi que isso era só uma amostra do que realmente acontece. Como eu não sou uma pessoa lá muito chegada a multidões e barulhos, já que mal consigo me concentrar em ambientes silenciosos, eu fiquei APAVORADA na primeira vez em que fui à feira aqui. Os feirantes gritam, galanteiam as mulheres, fazem piadinhas, conversam com o outro feirante que está a 10 metros da sua banca, cortam frutas com facas sujas e tocam os pedaços com suas mãos igualmente sujas e praticamente os enfiam na boca dos transeuntes “pra dar uma provadinha”. Imaginem agora minha cara assustada enquanto tudo isso acontece.  Além do esforço sobre-humano de ter que sair e comprar comida, ir à feira me exigiria enfrentar todo esse desespero.

Hoje minha mãe me ligou e, em suas típicas recomendações maternas para eu me alimentar melhor e me cuidar e etc, me disse para aproveitar que eu acordei cedo e ir à feira comprar algumas verduras e frutas. Eu prontamente respondi:

 − Mãe, pra mim, ir na feira é como se eu tivesse que caçar, pescar e colher meus alimentos numa selva perigosa e assustadora.

Uma das metas da minha vida é descobrir uma forma de lidar com a feira para conseguir comprar os belos vegetais que eu quero tanto ter na minha cozinha. Talvez seja ir à feira com fones de ouvido. Ou mais alguns anos me tratando com a psicóloga. 





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Top Ipod - Give Me Strength - Eric Clapton



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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Minha Vida "Adulta"


Chego em casa cansada de ter fingido ser adulta e responsável durante todo o dia de trabalho e arranco meus óculos com raiva,  jogo minha bolsa no chão, atiro um pé de sapato para cada lado, espalho meus livros, ligo o computador e passo uma hora inteira vendo coisas inúteis na internet. Ignoro minha louça suja, ignoro a lata de lixo que transborda restos da semana passada, ignoro que meus chinelos estão virados para baixo, ignoro que eu deveria comer algo saudável e também ignoro que devo dormir logo porque acordarei cedo demais no dia seguinte. Esqueço-me que não moro mais com meus pais e teria que cuidar da higiene e organização do meu lar, além do pagamento assíduo das minhas contas. Finjo que não me lembro que preciso de um salário melhor para juntar dinheiro e comprar alguma coisa grande e importante, como todas as pessoas maduras fazem. Lembro-me que gastei mais de um salário mínimo comprando sapatos plásticos com cheirinho de chiclete. Não me espanto por me sentir muito mais à vontade conversando com meus alunos adolescentes que quando falo sobre “futuro” com pessoas adultas. Eu não sei manter relações amigáveis com pessoas que me magoaram, sejam elas ex-namorados, ex-amigos, ex-colegas de trabalho, ex-familiares. É a minha escolha. O lixo transbordante cheira mal na minha casa, as contas atrasadas são minha responsabilidade, o cartão de crédito com o qual eu compro sapatos está em meu nome, o doce que eu como no jantar vai para os meus quadris. Se eu escolho não mais conviver com pessoas que me fazem mal, eu tenho os meus motivos e eles são tão meus quanto o caos dos lençóis da minha cama. A minha imaturidade e teimosia são parte de mim e eu não preciso abominá-las. Eu tenho o direito de escolher não ser “adulta” quando faço todas as coisas insensatas e imaturas. Eu respeito a minha desordem exterior e interior e prefiro estar perto de quem quer entender e respeitar isso. Eu virei adulta principalmente para ter o direito de não ser “adulta”.




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Top Ipod - Live Alone - Franz Ferdinand (muito pertinente)




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segunda-feira, 30 de maio de 2011

Trilha Sonora



Hoje eu quis harmonizar a trilha sonora da vida. Quis fazer o mundo dançar ao som do que eu ouvia. De pessoas correndo a coqueiros balançando entre prédios, de flores roxas a poodles perdidos, se eu quisesse mudar o ritmo do mundo que eu via, bastava mudar a música. Eu coreografei as coisas e as pessoas e fiz o meu próprio espetáculo. Todos me obedeciam pacientemente e faziam exatamente o que eu queria. O rapaz correu atrás do ônibus ao som do violino cigano. O choro da loira ao telefone foi abafado pela voz grave de Leonard Cohen. Eu refiz a cena em que a velha brigava com o jornaleiro e coloquei surf music ao fundo, porque soaria mais violento. Eu tomei a vida, o universo e tudo mais em meus braços e dançamos valsa, mas desta vez eu não era a mocinha. Eu conduzia os passos e sinalizava para os músicos tocarem Tchaikovsky novamente. Quando me entediei, coloquei minhas dolorosas sapatilhas de ponta e elas não mais feriram os meus pés. Depois eu dancei sozinha, com a postura segura do flamenco, mas o sorriso e os gritos agudos de uma cantora búlgara. O mundo me viu dançar ao som da música que eu escolhi.




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Top Ipod - Don't Look Down - Iggy Pop 
(porque estou chegando  devagar, mais perto do meu tão sonhado abismo)




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quinta-feira, 5 de maio de 2011

A Janela de Humpty Dumpty



Ninguém está lá fora, mas as luzes estão acesas. O sol que não mais é e não deixou de ser, sai devagar e deixa a lua magra perfurar o céu. O vento carregado de monóxido de carbono invade a grande janela que perfura o eu. O lado esquerdo e direito do cérebro da paisagem se separam e confundem Humpty Dumpty.

O ovo se senta no muro e não quer estar em nenhum outro lugar. Ele gosta do muro. Ele não quer cair e se fazer em pedaços. Ele não precisa dos cavalos nem dos cavaleiros do rei. O ovo está inteiro, mas caiu dentro de si.


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Top Ipod: It's Not - Aimee Mann
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quinta-feira, 28 de abril de 2011

E aí, Balbina, qual é o plano B?

Engraçado isso de você acabar de conhecer alguém, conversar cinco minutos com essa pessoa e ela te fazer uma pergunta que você mesmo se faz o tempo todo. Uma pergunta que está nas suas noites mal dormidas, que está nas suas crises de ansiedade, que parecia ser conhecida só por você mesmo.

E aí, Balbina, qual é o plano B?

Eu confesso que ouvir essa pergunta me assustou e eu fiz o que eu sempre faço com perguntas que eu não sei responder de imediato: disse o que achava que deveria dizer. Geralmente, eu respondo a perguntas assim automaticamente, sem prestar muita atenção. Mas também, as perguntas que eu não sei responder e geralmente me perguntam, são irrelevantes. Afinal de contas, a minha rotina de trabalho envolve lidar com perguntas cujas respostas essencialmente não fazem diferença para o que eu realmente sou.

Antes de pensar no plano B, eu precisei parar e olhar para o meu plano A. Na verdade, até hoje eu fiz planos muito instantâneos, muito incompletos, muito mal planejados, é bem verdade. Basicamente, meu plano A sempre foi fugir do que me incomodava, mesmo que isso envolvesse atravessar a rua correndo, quase sendo atropelada ou fazer algo que eu não queria para escapar de cobranças que eu não agüentava mais. Já fugi de pessoas, de empregos e de lugares. Já fugi a pé, de avião, de ônibus, carregando caixas e malas ou deixando objetos para trás. Também já fugi sem saber como nem para onde eu estava indo. Já fugi de coisas sem saber o que aconteceria se eu fugisse delas. Já fugi até pelo simples prazer da fuga.

Mas as noites mal dormidas e as crises de ansiedade estão gritando para mim que o plano A não está dando certo. E a pergunta ecoa e me desafia: E aí, Balbina, qual é o seu plano B?

A resposta, muito pensada e, acho que agora respondida, é simplesmente que o meu plano B significa fazer o oposto do plano A. Parar de fugir, ou ao menos refletir se realmente vale a pena fugir. A fuga é dolorosa, especialmente quando se deixa para trás algo que é parte de nós e que nos completa e que poderia nos tornar mais, digamos, felizes. Mas às vezes, parece mais fácil enfrentar a dor da fuga e abraçar o medo de não saber como lidar com algo. Pois simplesmente ficar e enfrentar qualquer que seja o monstro assustador que está lá, guardando a caverna em que está presa a princesa encantada, é simplesmente absurdo demais para quem não acredita que possa conseguir vencê-lo.


Portanto, o meu plano B é, antes de mais nada, aceitar a existência de um plano B. E então, eu vou largar as minhas caixas no chão, desfazer as minhas malas, rasgar minhas passagens, tirar meu tênis de corrida, pegar minha capa e a minha espada, entrar na caverna assustadora e travar minha longa e exaustiva batalha contra o monstro horrível. Será uma disputa como nos filmes de artes marciais em que, para manter a tensão dramática, o meu nêmesis quase me destruirá. E enfim, quando o monstro tiver morrido da forma cruel e vingativa que ele merece morrer, estará lá, me esperando pacientemente, a minha linda princesa encantada.



Nêmesis, de Alfred Rethel, imagem incrível, pilhada deliberadamente da Wikipedia. Estou aprendendo a me apropriar, ainda vou ficar boa nisso.      



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Top Ipod: Starman - David Bowie (porque já que a minha semana foi cheia de idéias de homens incríveis, vale a pena ouvir dezenas de vezes uma música de um deles) 




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quinta-feira, 14 de abril de 2011

Não empresto livros. A casa é sua, venha ler aqui. *


Alguns dias atrás eu sonhei que estava em uma biblioteca enorme, tão grande que eu não conseguia ver as paredes. Eu caminhava entre as estantes e folheava os livros e, para minha surpresa, alguns estavam com a capa e as folhas em branco.
Ah, os livros...
Eu sempre achei que os livros eram meu patrimônio mais importante. E não digo isso pra parecer intelectual e impressionar as pessoas. Justifico isso dizendo que nada que eu tenho me faz sentir o mesmo. A sensação que traz aquela ânsia de já começar a virar uma página antes mesmo de começar a ler o primeiro parágrafo dela. Os livros sempre foram meus companheiros, meus melhores amigos, minha fuga para um lugar melhor.
Eu fui uma criança muito sozinha e me lembro que um dia, quando eu tinha uns 7 anos, pra me distrair da falta de amiguinhos pra brincar, minha mãe me deu O Pequeno Príncipe  pra ler. Eu nunca vou esquecer como aquela história preencheu minha vida e me fascinou tanto que eu li várias vezes seguidas. Tempos depois, eu me lembro que tive catapora e não podia ir à escola. Então, minha mãe me deu Pollyanna e O Menino do Dedo Verde e eu passava as manhãs com chocolate quente e chazinho na companhia daqueles livros. Talvez tenha sido a época mais feliz da minha vida.
Cresci um pouco e me tornei uma adolescente também muito sozinha. E depois de ler toda a Série Vagalume, eu comecei a ler qualquer coisa que me aparecesse pela frente. Li o tão criticado e rejeitado O Mundo de Sofia, que teve o mérito de me abrir as portas do mundo dos filósofos e grandes pensadores. Como eu morava em uma cidade que não tinha (e ainda não tem) boas livrarias e eu também não tinha muito dinheiro, eu dependia dos empréstimos de amigos e da humilde biblioteca do SESC, além de viver perambulando pelos sebos mal abastecidos e, eventualmente, tinha sorte de achar algo incrível.
Eu começava a ler e o mundo sumia. Todos os meus colegas detestáveis da escola, meus problemas com meus pais e meus parentes insanos, meu sério problema de autoestima, tudo ia embora. Ficavam apenas as histórias e as idéias de gente que eu queria que fizesse parte da minha vida. Eles me davam o que eu mais precisava e eu me sentia melhor.
Eu me afeiçoava aos livros, me apropriava dos marcadores de páginas na biblioteca, imaginava coisas, mergulhava profundamente nas histórias, sorria, chorava, me apaixonava pelos personagens. É bem capaz de alguém me perguntar algo sobre alguma época da minha adolescência e eu responder com alguma parte de O Grande Mentecapto ou alguma aventura do protagonista de À Mão Esquerda, porque, na verdade, aquela ERA a minha vida, e aqueles eram meus amigos, meus professores, minha inspiração.
            Na época eu tinha um caderninho, que depois se encheu e eu tive que ter outro caderninho, e mais outro e assim sucessivamente. Nesses caderninhos eu anotava palavras, idéias, falas de personagens, minhas opiniões sobre aquilo tudo, minhas fantasias, minhas angústias. Cheguei a copiar à mão capítulos inteiros de livros que eu não podia comprar, porque eu precisava guardar aquilo junto comigo e eu não podia esquecer. Foi a única época que eu realmente consegui ter alguma coisa parecida com um diário, porque me sentia registrando algo mais relevante que qualquer coisa que eu havia pensado, vivido ou mesmo estudado na escola. Aquilo fazia com que eu me sentisse viva ou, em outras palavras, interessada pela vida.
            Eu aprendi a gostar dos livros usados, de páginas amareladas. Me empolgava sinceramente com dedicatórias de estranhos a outros estranhos, buscava avidamente por trechos sublinhados, anotações, bilhetes, cartões ou qualquer coisa que me mostrasse o efeito ou propósito daquele livro, que então estava comigo, na vida de outra pessoa.
            Os livros, para mim, tem corpo e alma. Obviamente, o corpo são as páginas e capas. Além de bilhetes, cartões, marcadores, cílios e pedaços de biscoito caídos entre as páginas, saliva seca nas extremidades, traços, exclamações, marcas de batom, buraquinhos de traças. Já a alma é aquilo que começa na cabeça de alguém de alguma forma, se transforma em palavras e, às vezes pode mudar a vida de quem está lendo, sublinhando e perdendo cílios no “corpo” do livro.
            Eu chego a sofrer pensando em quais caminhos desconhecidos um determinado livro esteve antes de chegar às minhas mãos. Porque geralmente eu leio o que aparece na minha frente e ignoro meu ceticismo para acreditar que um livro veio a mim por forças do destino.
            Agora que sou adulta e tenho que forjar momentos livres para leitura em meio à rotina sufocante e entediante, eu ainda tenho o mesmo sentimento pelos livros. Na verdade, eu tento esquecer isso às vezes, por ter que trair essa paixão enorme para executar o resto das minhas tarefas diárias. Mas os livros ainda são os amigos que suprem necessidades tão minhas, tão necessárias, tão insubstituíveis, que ninguém nem nada poderá suprir. Eu ainda sofro e me alegro com as histórias e ainda tenho aquela horrível sensação, como se alguém tivesse morrido, quando fecho um bom livro que acabei de ler.
            Mas na verdade eu falei tudo isso pra contar deste livro, que comprei em um sebo gigante aqui em São Paulo há cerca de um mês:




            É um livro que achei na última prateleira, no cantinho mais escondido, no cômodo mais escuro do Sebo do Messias. É um livro fino, com 164 páginas, surpreendentemente intacto, impresso nos Estados Unidos. No verso do livro está o valor em dólares – U$$ 24,00 e CAN 30,00. E eu paguei míseros R$ 10,00. Em resumo, o livro é um workshop imaginário dado pela Virginia Woolf para quem gosta de escrever (ou produzir algo criativo em geral), no qual uma autora compilou trechos de artigos escritos pela própria e intercalou com diálogos inventados e dicas práticas.
            Comecei a ler finalmente este livro e, como eu já tinha uma noção, ele se encaixa tão assustadoramente bem neste momento da minha vida que eu não consigo parar de pensar nele e fico imaginando por quais meios improváveis ele chegou até a minha estante bagunçada. Eu, que nunca li um livro da Virginia Woolf, estou encantada, deslumbrada, perplexa com as idéias dessa mulher fascinante sobre algo que é igualmente fascinante para mim. São tantas possibilidades que se abrem, tantas idéias que surgem, que eu mal consigo lidar com o que eu tenho sentido ultimamente.
            De certa forma, eu sei que ele está aqui porque eu o quis e me senti motivada a encontrá-lo e então começou a leitura e começaram os pensamentos que voltaram a existir. Assim como eu finalmente ressuscitei aquele caderninho de anotações, que nada mais é que um sinal de que eu voltei a gostar da vida.
            Porque é simples assim: as coisas acontecem de dentro pra fora, da alma para o corpo, assim como os livros. E ainda existem tantos livros em branco naquela biblioteca...



*Frase que Mário de Andrade tinha ao lado de sua estante de livros, irritado porque as pessoas não devolviam o que pegavam emprestado. E, como ele, eu não empresto meus livros.


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Top Ipod: Anthem -  Leonard Cohen (because there is a crack in everything and that's how the light gets in)
                When I Paint My Masterpiece - Bob Dylan (por motivos óbvios)
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quinta-feira, 24 de março de 2011

A Solidão e a Salvação do Planeta ....................... e de mim

Não é que eu tenha medo da solidão, mas sim que eu tenho medo da minha própria companhia. Sabe quando a gente tem aquelas conversas sérias com a gente mesmo, aquela discussão da relação em monólogo? Esse é o medo. Às vezes eu evito a mim mesma como evito a abordagem dos ativistas do Greenpeace na Paulista que querem salvar o planeta. Tanto a minha própria presença questionadora quanto os caras do Greenpeace querem salvar coisas com as quais eu geralmente não me importo muito: eu mesma e o planeta.

Ao menos eu estou começando a ter vontade de salvar uma dessas coisas, e a dica é: não é o planeta.


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Top Ipod: La Guerra Es Por Dentro - Che Sudaka



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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Comunicado Importante ........................... para mim

Comunico a quem interessar possa, e agora oficialmente, que não vou esperar mais nada. Não vou mais esperar:

que eu tenha coragem, que a vontade chegue, que eu decida qual é o meu sonho, que o meu sonho se realize, que seja a hora certa, que eu ache a palavra certa para definir algo, que eu tenha a companhia perfeita pra ir aos lugares, que eu encontre o amor verdadeiro, que eu tenha dinheiro, que eu perca o medo das pessoas, que as pessoas sejam mais interessantes, que o meu ódio por todos diminua, que a minha dor de cabeça passe, que as minhas doenças se curem, que eu leia mais livros, que eu aprenda a falar francês ou espanhol, que eu emagreça, que eu fique bonita, que meu cabelo cresça, que eu pare de ter pesadelos, que eu seja a inspiração de alguém que me inspira, que meu ônibus passe, que a minha inquietação passe, que pare de chover, que eu seja mais organizada, que meus pais me aceitem como eu sou, que eu perdoe meus inimigos, que meus inimigos me perdoem, que eu me perdoe.

Cansei de esperar. Até hoje eu só ouvia essa voz aqui dentro me falando que eu deveria esperar, um pouco mais, muito mais. E chega. Cansei. Agora, vou começar a tentar fazer tudo o que eu sempre quis fazer. Agora.

E eu sou obrigada a concordar com o clichê óbvio do John, que é tão verdade: “A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”.




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Top Ipod: To Rise Above – Gogol Bordello (because “I don’t know if anywhere in this universe there is this kind of Love”) 


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