terça-feira, 18 de novembro de 2008

Performances


Em um dia ensolarado de domingo em que TUDO deu certo, fomos passear em um evento que sabíamos relativamente onde era e, com uma margem baixíssima de precisão, do que se tratava. Depois de uma pane misteriosa eu não tinha energia elétrica em casa disponível para ligar o computador e entrar na internet para ver o convite online que recebi dos meus amigos que iam fazer stencil art no tal evento. Sendo assim, não sabia exatamente o endereço. Então, depois de um considerável sanduíche de mortadela no Mercado Municipal, Tiago e eu resolvemos tentar chegar lá e ver do que se tratava.

Saímos do metrô Barra Funda e começamos a pedir informações a figuras que transmitiam alguma autoridade ou não, como funcionários do Metrô, seguranças do Metrô, o segurança do estacionamento do shopping, o porteiro do Clube do Palmeiras, duas transeuntes japonesas e por fim uma viatura da PM que estava por lá, tudo isso em intervalos de aproximadamente 10 minutos de idas e voltas. Algumas garrafinhas de água e uns cinco “eu disse que a gente estava no caminho certo” (do Tiago) depois, chegávamos à tal Casa das Caldeiras, identificável por ter três gigantescas chaminés que podiam ser vistas de qualquer ponto a 100 metros de distância.
Na entrada, uma locomotiva restaurada e um corredor transparente que dava acesso à construção. Ao chegar na porta haviam duas escadas que davam acesso ao local. Escolhemos a da direita e descemos, já curiosos pra entender de que se tratava toda a disposição de tubulações de metal pintadas de laranja que se erguiam até o teto em frente às paredes de tijolo. Quando eu olhei para o lado, percebi que havia uma mulher completamente sem roupas enrolada em papel filme transparente dependurada no corrimão. Após a minha previsível exclamação “Tá danado!” continuamos seguindo, para perceber logo adiante que, em meio às poltronas brancas espalhadas em frente à mesa de som, haviam mais algumas pessoas nuas ou semi-nuas embrulhadas em papel filme distribuídas em cantos estratégicos do andar, inclusive no outro corrimão.
Descemos até o andar de baixo e logo vimos nossos amigos que estavam lá em frente à parede branca fazendo seus stencils ao lado de alguns grafiteiros que desenhavam coisas diferentes entre si. Os amigos disseram pra gente continuar olhando nesse andar de baixo, e foi o que fizemos. À esquerda, um túnel de tijolos à mostra bem iluminado que parecia ser o lugar com mais fantasmas por metro quadrado que eu já tive a oportunidade de entrar, só perdendo para um dos outros cantos com tubulações do outro lado da Casa das Caldeiras. Seguimos andando e vimos uma moça (igualmente semi-nua) com uma fina mangueira transparente enrolada no tronco. A extremidade de cima estava ligada a uma garrafa com um líquido vermelho e a outra estava entre as coxas. Ela soprava o líquido na mangueirinha e ele ia saindo pelo lado de baixo. Seguindo no túnel, havia uma outra moça (sim, semi-nua) vestida com meia-calça cor da pele até no rosto, sentada no chão fazendo movimentos ondulantes inexplicáveis e enfiando pedras dentro dos orifícios que a meia-calça deixava. Lá no fim do túnel havia um círculo que dava em uma das extintas chaminés, onde havia outra moça (esta com um longo vestido de época cheio de pano) em pé de costas para o túnel sendo fotografada e/ou filmada.
Voltamos pelo túnel e resolvemos ir para uma das outras extremidades, onde entramos em um lugar bem iluminado onde estavam dispostos de forma milimetricamente caótica uma centena de carcaças de coisas elétricas ou não (monitores, baldes, embalagens vazias de perfume...) com amostras de palavras poéticas escritas sobre alguns dos objetos. À direita, uma abertura na parede mostrava um lugar cheio de graxa e mal iluminado que tinha espalhadas e dependuradas algumas lingeries daquelas que não se compra perto da mãe, uns dvds de filmes randômicos, cabeças de bichos de pelúcia e uma moça com graxa por todo o corpo (adivinhe) seminu.
Andamos mais um pouco e eu comecei a rodar um pesado objeto circular que algum dia deve ter servido como parte de um sistema para gerar energia de alguma forma. Realmente foi agradável girar para a direita, tentar parar com toda a força pra depois (!) girar para a esquerda. Mais agradável ainda foi o rapaz com o saxofone que passou e me disse: “Terapia?”. Adiante, algumas tubulações não usadas há décadas, portinholas de metal que o Tiago abria e eu tentava contar quantos fantasmas estavam saindo.
Acho que antes de assistir o pôr-do-sol e ir embora nós andamos em círculos umas 10 vezes com longas paradas para espanto e observação de performances de bailarinas deitadas, uma mulher que mais parecia uma daquelas estátuas de deusas da fertilidade de 10.000 A.C. , uma portinha com uma placa pequena com o desenho de algo muito parecido com um dromedário e os grafitis que estavam sendo feitos. Devo admitir que não dava vontade de ir embora, vontade essa que costuma ser bem freqüente.
Não espere que eu revele neste momento meu ponto de vista artístico sobre toda essa exuberância performática que em conjunto, realmente me espantou. O livro de história da arte que estou lendo ainda está marcado na página que termina de falar do Neoclassicismo e eu só formei (novamente) uma opinião até aí. Eu só posso dizer que:
1- Espero mesmo terminar logo de ler esse livro e ler mais uns 250 para tentar ter uma visão mais clara do que é arte;
2- Acho que a disposição e o conjunto (música, pessoas, luzes, cores) fazem uma grande diferença;
3- Não, infelizmente eu não estava com uma câmera pra registrar isso fotograficamente;
4- Lá em Goiás (pelo menos até onde eu vi) não tinha disso não... Por isso, mereço um pouco mais de tempo para refletir;
5- Quando eu estava voltando de ônibus, olhei pela janela e vi um colchonete muito bem organizado de um mendigo, que tinha em cima uma coberta muito bem dobrada e uma revista Quatro Rodas cuja capa trazia: “Civic ou Corolla, saiba como escolher”, ao lado de uma Bíblia de bolso.



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Top Ipod: Kalasnjikov - Goran Bregovic

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Biloquinha


como faz?
tenho que comentar aqui pra vc saber da minha presença? (Y)


morri de rir
o divertido é q eu li com entonações balbinisticas

Meda!bandodimulhépelada

:*

Francis J. Leech disse...

Playcenter para adultos. O importante é ter gente pelada a preços reduzidos, isso sim é importante!

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