Foto: Britt Chudleigh |
Imagina só: abrir de uma vez todas as portas, janelas, braços, pernas,
pálpebras e a boca pra deixar a luz entrar. Esvaziar estantes, gavetas, a
cabeça e aquela lapiseira entupida que não deixa mais o grafite 0.7 passar.
Arrancar as páginas de anotações inúteis que são coerentes e tristes como esse
nó de tensão no ombro esquerdo que já foi embora e foi tarde. Libertar a
menininha de 7 anos que ficava a eternidade pensando que nunca consegue copiar
da lousa antes que o professor apague. Imagina ter coragem o suficiente pra
mergulhar de cabeça em uma piscina de bolinhas! Imagina ter força pra carregar
uma mala cheia de escolhas. Imagina páginas em branco e telas em branco e salas
vazias pra gente dançar ballet salsa flamenco cumbia ou qualquer ritmo que
sincronizar com as pernas e os quadris. Imagina fazer uma lista de vitórias e
derrotas e desistir ao ver que as listas são só um caminho que traçamos entre o
agora e a morte? Escrever um livro inteiro e depois reescrever 50 vezes, com
finais alternativos e prever o próprio futuro pela ficção. Imagina o plot twist se descobrirem a mentira que eu não aguento mais contar? Imagina sair
correndo desengonçada como um desenho animado e depois desejar bom dia a
estranhos em um idioma desconhecido? Imagina que é possível reaprender a sorrir
umas mil vezes, inclusive durante o sono, ou durante o choro.
Imagina os pés no chão, a cabeça nas nuvens e as viagens deixando de
ser imaginárias.
Fecha os olhos e imagina, só imagina, só por um minuto, nunca te pedi
nada:
a inpiração vindo
sem vergonha
sem obrigações
sem calcinha
dando pirueta
de madrugada
aleatória
com pimenta
ridícula
possível.
Ouvindo: Jour 1 - Louane
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