Foto: Tiago Fuentes |
Eu me apaixonei por você em tão pouco tempo que achei que era o
suficiente pra vida inteira. Mas isso de vida inteira é coisa que a gente só
acredita quando é muito jovem. E eu era ainda mais jovem do que sou hoje. Eu
admirava seus defeitos como detalhes assimétricos de uma obra de arte. Abandonei
tudo, saí correndo e vim pra cá. Eu mudei muito, você pouco. Você ora quente
como o demônio, ora fria e cinza como eu mesma. Tive que me adaptar. Vivi a
maioria das minhas primeiras vezes com você. Algumas ótimas, outras
traumatizantes. Entrei em você como um grão de areia em uma ostra. Chorei
muito, mudei meu sorriso. Aprendi a relevar. Fui aguentando derrotas, tombos e
mudanças. Me acostumei sem querer. Achei que eu não merecia mais. Por sua
causa descobri forças desconhecidas em mim. Você me sufocava e me mostrava
minha insignificância. Você com sua
beleza estranha que só tem quem é inatingível. Você elegante e sem vergonha.
Você que me fez mulher, me fez pérola, me fez bichinho assustado, me aprisionou
e agora me repele. Você me aproximou do meu sonho, mas me afastou de mim mesma.
Você faz mal à minha saúde. Mas tem um cantinho no meu coração que vai ser
sempre seu. A gente pode tentar manter a amizade. Não me entenda mal. Não é
você, sou eu. Minha ausência não vai ser nem estatística. Acontece que eu
acabei me apaixonando de novo. Não sei dizer por quem. Eu vou embora, mas sou
safada o suficiente pra voltar às vezes. Ou pra sempre, mais uma vez.
Ouvindo: Live and Die - The Avett Brothers
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