sexta-feira, 20 de junho de 2008

Dimensões do passado sempre presente

Hoje me deparei com a ausência que sempre será ausência. O protagonista da história que eu mais gostava de ouvir na minha infância torna-se, então, somente parte dessa história. A presença dele sempre foi abstrata, assim como a dor que a eterna ausência agora causa.

A meu ver, há três formas de se ver o mundo. Alguns vêem em duas dimensões, pragmáticos, objetivos, largura, comprimento, poucas cores, algum movimento, um certo barulho. Outros vêem em 2D complexo, com inúmeras nuances de cores, formas e movimentos, além de sons interessantes, mas ainda 2D. Já alguns, com ou sem tantas cores, vêem o mundo em 3D. São capazes perceber e ter a profundidade das formas e também têm uma fantástica trilha sonora. Não que eu consiga sempre classificar as pessoas nas categorias que imaginei, claro. É muito fácil se enganar.

Há pessoas que morrem encerrando algo que só era chamado de “vida” por causa de funções metabólicas desempenhadas pelo seu organismo. Outros morrem felizes, dormindo, velhinhos, em paz, aquecidos em seus leitos confortáveis ao final de uma estadia confortável na vida real. Tem os que saem por aí tentando absorver a tudo e a todos e morrem no meio de suas aventuras. Há aqueles que extraem saudades vazias de uns quando morrem. Mas também há os que morrem exauridos no corpo, mas com tanta verdade dentro de si que ela até parece bastar.

E sentir demais pode ser algo além de sofrimento. E uma dúvida pode ir construindo algo pelo caminho, se houver um caminho aberto para alcançar a resposta. Mesmo sabendo-se que “dúvida” e "resposta" são abstratos demais.

A verdade dele fez sentido pra mim. Talvez um dia eu ache a minha verdade para que ela me baste. Ainda que abstrata. E talvez, quando eu morrer, alguém chore por mim sentindo o mesmo que eu sinto por ele, mesmo que tão abstrata e distante.

Para o passado dele, sempre presente, o meu eterno respeito e admiração.
(03/02/1946 – 20/06/2008)


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Top Ipod: Ever Present Past - Paul McCartney




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3 comentários:

dan disse...

lido e relido. eu fui idiota o suficiente por negligenciar essa importante e crescente camada de pessoas 2-d coloridas por tanto tempo. Sempre que aparecia alguma, eu me iludia e a colocava no 3-dzão, só pra depois me decepcionar.
enfim, mais um constructo que minha mente está absorvendo para melhor classificar e colocar as pessoas em grandes massas homogênias

Francis J. Leech disse...

eu vou lembrar e chorar.

Anônimo disse...

Esdrúxulo! Mas, também cheio de amorizades...

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